Cuenca – Equador

06/04/2014

Acordamos cedo, nos despedimos de nossos novos amigos e seguimos em direção á fronteira. Sandra nos havia dito que agora há um complexo, onde se faz a saída do Peru e entrada no Equador, tudo em um mesmo lugar. Já havíamos passado por um complexo parecido no fronteira do Chile com o Peru. Tudo bem moderno, informatizado, no intuito de agilizar todo o procedimento. Logo á entrada, dá-se a saída do carro do Peru. Rapidinho. Quando chegamos no setor de imigração, tinha um ônibus na nossa frente… Além disso, adivinha? Caiu o sistema!!! Ficamos uma hora esperando, mas quando voltou o sistema, foi tudo rápido: passa num guichê dá a saída do Peru, passa no outro, dá a entrada no Equador. A entrada do carro, faz-se uns 5 km á frente, tudo bem sinalizado. Dessa vez, nem precisamos baixar a bagagem. O que já é um bônus, hehehe. Como era domingo, não havia local onde comprar o SOAT, que é um seguro obrigatório do carro, contra acidentes e fomos orientados a seguir para Cuenca e comprar amanhã. Poucos quilômetros depois da fronteira, em direção a Cuenca, parece que entramos em outro mundo. Aqui também tem montanhas altas, só que cobertas de verde. A estrada é boa, mas com muitos trechos em obras. A impressão que tenho é que todos os países por onde passamos ( exceto talvez Argentina) estão em ritmo de modernização e crescimento, apesar de todos os problemas. E o Brasil, uma vez mais, está perdendo o bonde da História…. Triste demais!! Tem vários povoados ao longo da estrada, muita plantação de banana. Como era domingo, havia muita gente aproveitando as cachoeiras, restaurantes á beira da estrada onde se assam porcos inteiros – chancho, frangos, cuys; e o verde por toda parte. Já estávamos sentindo falta. Chegamos em nosso hotel – Casa del Aguila, no centro de Cuenca, um casarão de 1802, restaurado mas que mantém o estilo colonial, muito bonito e bem cuidado. Estacionamento logo em frente, o que é muito bom. Fomos ao centro, com a maioria das coisas fechadas. Passamos pelo mercado de flores, em frente ao Santuário Mariano onde estava havendo uma celebração da quaresma. Em seguida saíram em procissão pela cidade, dando a volta na praça. Eu, como sou do interior, já vi e participei de várias, na minha infância. O Fernando, era primeira vez que via. As pessoas vão rezando e cantando, guiadas por um sacerdote e carregando-se um andor com a imagem do santo, no caso o Senhor Martirizado. A América Latina ainda é católica em sua maioria. Comemos no Tutto Freddo, na praça e voltamos ao hotel.

07/04/2014

Cuenca é a capital da província de Azuay, a 2535 msnm, ás margens da rodovia Panamericana, e um caminho que, no tempo dos incas, ligava esta região a Cusco. Conserva bastante de sua arquitetura colonial, e é considerada pela UNESCO, Patrimônio Cultural da Humanidade. É a terceira maior cidade do Equador e uma das mais ricas. Seu nome é Santa Ana de los Rios de Cuenca, pois é cercada por 4 rios, sendo que o Tomebamba cruza a cidade, com o centro histórico ao norte. A economia foi dolarizada em 2000 e a moeda usada é o dólar americano. Apesar disso, os preços são bem atrativos. Tomamos ocafé da manhã, e pela primeira vez em nossa viagem, chuva. Aproveitamos para iniciar os contatos para despacharmos nosso carro de Guayaquil para o Panamá.
Como a chuva deu uma parada, fomos passear pelo centro histórico, com sua praça central, o parque Calderón, dominada pela Catedral de La Immaculada Concepción, enorme e em estilo românico, lembrando a Notre Dame de Paris. Como era segunda-feira a subida ás cúpulas estava fechada. Descemos até as margens do rio Tomebamba, com vários museus, parques e até uma universidade. Passamos também pelo Mercado de San Francisco, que vende de tudo, de carnes, frutas a roupas. Logo ao lado há um mercado de artesanato, com lojinhas bem arrumadas e chapéus Panamá de vários tipos e preços. Sim, o chapéu Panamá é feito no Equador especialmente em Cuenca e Montecristi. Possui cor clara e pode ter vários formatos. No século XVIII era popular a utilização de chapéus de palha toquilla pela nobreza colonial espanhola, logo o rei da Espanha ordenou a encomenda de vários tecidos de palha toquilla para sua esposa. Os botânicos da corte realizaram o primeiro estudo constatando que a palha toquilla é originária de uma espécie de palma que só cresce nas proximidades da costa equatoriana entre 100 e 400 metros de altitude, e deram-lhe o nome de Carludovica Palmeta em honra ao Rei Carlos IV e sua esposa Ludovica. Logo após a independência do Equador, o empresário Manuel Alfaro estabeleceu uma produção de chapéus em Monticristi e com os negócios em franca expansão aproveitou-se da importância comercial do Panamá e iniciou a exportação para o país. Em pouco tempo já tinha aberto lojas no Panamá, atraindo atenção de pessoas do mundo inteiro e disseminando a associação dos chapéus equatorianos ao Panamá. Logo após o desenvolvimento do comércio em Montecristi, as autoridades locais de Cuenca abriram uma fábrica moderna no intuito de melhorar a economia local, atraindo também tecelões de Montecristi para treinar as pessoas da cidade que tivessem interesse em trabalhar com a produção dos chapéus. Os chapéus de Cuenca se diferenciavam pelo processo químico de branqueamento da palha e a utilização de uma palha mais grossa para permitir a confecção mais rápida . A indústria do chapéu Cuencana logo prosperou e virou a atividade econômica mais importante desta região. Alguns acontecimentos históricos tiveram importância preponderante no desenvolvimento no comércio dos Chapéus Panamá. Em 1848 iniciou-se a “Corrida do Ouro” na Califórnia/USA, sendo o istmo do Panamá um caminho importante para se estabelecer negócios (inauguração do primeiro caminho de ferro transcontinental do mundo). Por ser muito comum adquirir um modelo desse chapéu na cidade do Panamá, a cultura acabou sendo difundida nos EUA. E após Eloy Alfaro (filho de Manuel Alfaro), que tornou-se também presidente do Equador, assumir os negócios da família, a exportação para os EUA girava em torno de 200 mil unidades ao ano. Em 1855, um francês que vivia no Panamá exibiu os chapéus na Feira Mundial e, em pouco tempo, a moda francesa o adotou. Até mesmo o Imperador Napoleão III usava um chapéu Montecristi, o que ajudou a difundiar esse modelo por toda Europa. Com a expansão da cultura de açúcar no Caribe e América do Sul, também a utilização do chapéu difundiu-se para a proteção dos fazendeiros e trabalhadores, principalmente em Cuba. Em 1906, durante a construção do Canal do Panamá, muitos chapéus foram comprados para os trabalhadores e os engenheiros americanos que chegavam ao Panamá. A popularidade cresceu no mundo inteiro quando a imprensa mundial publicou uma foto do presidente Theodore Roosevelt usando um chapéu Montecristi durante sua visita ao canal. Santos Dumont, Clark Gable, Humphrey Bogart, Michael Jackson e a malandragem carioca dos velhos tempos também usavam. Vai um Panamá aí? Almoçamos por inacreditáveis US$ 4,80 com direito a sopa de entrada, prato principal com arroz, legumes e bife e suco. Passear pelas ruas daqui é muito legal pela quantidade de casarões bem conservados, muitos deles pousadas e hotéis. Parece uma volta ao início do século passado.

08/04/2014

Novamente chovendo e saímos para ir ao Parque Nacional Cajas, a 35 km daqui. Apesar da chuva e neblina, paisagem muito linda, com vales verdes, rios montanhas, varios restaurants e pesqueiros ao longo da estrada . Chegamos ao Centro de Visitantes do parque a quase 4000 msnm, pegamos nosso bilhete de ingresso, vestimos mais um agasalho pois estava 8 graus e chovendo. Fizemos a trilha que contorna a lagoa Toreadera, aproximadamente 2 horas, que é o percurso mais curto. Como estava chovendo, não vimos muitos pássaros ou animais, apenas plantas e as flores minúsculas, típicas das alturas. Muita lama e chuva, o que foi um pouco estressante, pelas subidas e descidas íngremes e escorregadias. De volta, tivemos que trocar de roupa pois estava tudo encharcado; tomamos uma sopa quente num pequeno restaurante que tem lá mesmo. De volta ao hotel, deixamos as roupas e botas enlameadas direto na lavanderia Jeremy`s, na clle Sucre, hehehe. Sim, a Katte nos atendeu e disse que eles lavam também sapatos e botas. Que bom pois as nossas, quase demos por perdidas, de tanta lama. Banho quentinho e descansar….

09/04/2014

Dia amanheceu ensolarado. Aproveitamos para subir na cúpula da Catedral, com uma bela vista da cidade e das montanhas ao redor. Passamos também pela igreja de Todos os Santos, junto á qual estão as ruinas de Tomebamba, cidade Inca e Cañari, anterior á chegada dos espanhóis. Também tem os remanescentes de uma ponte, conhecida como Puente Rota, que foi levada por uma enchente e hoje virou um mirante. Fomos ainda ao mirador Turi, do outro lado do rio Tomebamba, na parte moderna da cidade, de onde se tem uma bela vista de toda ela. Demos mais algumas voltas pela cidade, pegamos nossa roupa e as botas, agora incrivelmente limpas, e toca arrumar as tralhas que amanhã é dia de estrada.